quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Bondagismo Puro


Texto de Mestre Monteiro ACM Antonio

Postado originalmente em seu perfil no facebook


A ideia não é falar de diferenças. As palavras não carregam qualquer crítica. 
É bacana esclarecer antes que os novos arautos do New BDSM Nutela se emputeçam e comecem o clássico mi-mi-mi.

Então vamos escrever...

Bondage (esse termo mesmo!) não começou no Japão, nem na China ou na Cochinchina.

Bondage nasceu da mulher em apuros, da fantasia de rapto, sequestro. A tal Damsel in Distress é isso.

Bondage puro não é tipo de corda, mulher sorrindo, ritual com velas, um camarada do ocidente vestido de quimono com a mulher fantasiada de gueixa. Na captura - que é a essência de quem curte esse fetiche na forma mais pura, vale a mão tapando a boca, o lenço embebido de clorofórmio, a mulher sendo levada nos ombros, tudo isso na mais pura fantasia.

O bondagista de berço captou na lente dos seus olhos e na mente o tesão que viu das mulheres amarradas nos filmes, nos seriados, nas revistas em quadrinho na fase adolescente. E trouxe com ele.

Lá fora, onde resolveram organizar isso e lucrar com esse segmento, um sujeito chamado Irving Klaw começou dando as cartas.

Klaw tornou-se conhecido por desenvolver um tipo de negócio de pedido e entrega de fotografias pelo correio, onde vendia algumas fotos e pequenos vídeos de mulheres atraentes (às vezes em trabalhos de bondage) desde os anos 40 aos anos 60. 

Foi um dos primeiros fotógrafos de fetiche, e sua principal estrela (Bettie Page), transformou-se na mais famosa modelo de bondage de todos os tempos. Nasceu no Brooklyn, New York. Seu negócio de família, que inicialmente se chamou Movie Star News, começou em 1939 quando junto com sua irmã Paula abriu uma livraria (sebo) na Rua 14, número 209 no leste de Manhattan. Depois, ao descobrir que os adolescentes recortavam frequentemente fotos de seus anúncios de filmes, começou a vender pequenos cartões com destaque para as estrelas da época em separado. Os clientes poderiam folhear através dos vários catálogos de fotos de amostras e requisitar o que quisessem pelo número do artigo. 

Assim, venderam a velha livraria e mudaram a loja para o nível da rua, abandonando o antigo porão e a rebatizaram com o nome de Pin-up-king. E o negócio prosperou.

No final dos anos 40 recebia pedidos frequentes para o tema "Damsel in distress", nome dado às fotos das atrizes amarradas e amordaçadas. Por causa da dificuldade de encontrar trechos de filmes que pudessem atender à demanda, Klaw decidiu produzir suas próprias fotos. Novamente com sua irmã Paula, que chegou a posar para ensaios fotográficos, começou a vender fotos do fetiche de bondage usando como modelos dançarinas que faziam algum sucesso na época.

Então esse é o conceito básico. Essa é a história de onde vem o termo “bondage”.

Bondage não é apenas o ato de amarrar como alguns acreditam. Bondage é um pouco mais.

Bondage aceita que se prenda com fita adesiva, algema, zipper de plástico, enfim, uma gama de elementos que vai desde a corda mais trabalhada a um trapo de pano.

Bondage é a essência e não o ato.

A estética dos nós e nomenclatura das posições apareceram com o tempo. O próprio desenvolvimento do fetiche e a exibição publica atraíram olhares e trouxeram arquitetos de cordas e nós que criaram uma competição sadia de quem fazia mais bonito. Mas isso é apenas um detalhe num universo cheio de história e conteúdo.

Bondage não é somente plasticidade e perfeição de alinhamento das cordas. A expressão de quem está em perigo responde por 70% da cena e, esse aspecto, essa geração que hoje dá as cartas precisa entender, absorver e passar adiante.

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