quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Somos todos monstros


Texto de Bia Baccellet

Sempre que faço uma autoanálise, fico me perguntando de onde saíram meus gostos diferentes e vontades de experimentar coisas muito opostas ao consenso geral da moral e dos bons costumes. E cada vez eu fico me perguntando a mesma coisa:

Como alguém pode gostar de BDSM?
  • O BDSM não é bonito e tampouco romântico ou carinhoso. Afinal o que leva alguém a gostar de BDSM então?
  • O que nos motiva a desejar o bizarro, a loucura, a imoralidade, a sujeira e podridão?
  • Haveria um monstro me habitando?
Ao longo dos anos tive várias respostas pra essa pergunta, hoje elas parecem não responder mais a essa questão, parece não mais ser suficientes, ainda permanecendo a incômoda dúvida. O monstro ainda permanece rugindo.

Fazendo uma retrospectiva, posso tentar justificar meus gostos "estranhos" no meu passado, colocando um evento ou outro em voga, desenterrando os ossos da memória e buscando uma resposta. Mas fazendo isso só consigo mais perguntas ao invés de respostas, ainda somando alguns "e se" ao rol de indagações que surgem.

- E se tal evento não tivesse acontecido, eu seria ainda a mesma de hoje?
- Será que foi isso que me mudou pra sempre?
- Essa influência foi tão forte assim?

E acabo chegando à óbvia conclusão que não sou fruto de um único evento do passado, mas sim, de vários eventos somados, que foram me mudando e me tornando a pessoa que sou hoje, ou o monstro que em mim habita.

Os caminhos poderiam ter sido diferentes? Podiam. Mas não foram.

Aqui estou, assim eu sou.

E gosto do que gosto, apesar de não entender porquê exatamente. Apesar de ainda procurar uma resposta pra esse porquê. Não por necessidade de responder a algo, não por culpa ou para pôr culpa, mas para enfim me entender e extrair de mim mesma o máximo que eu puder.

A complexidade que somos nos impede de ligar os pontos numa retrospectiva e traçar uma linha de eventos que nos fez chegar até o BDSM, ou até mesmo entender porque ainda continuamos a gostar dele, apesar de parecer algo tão natural como a luz do dia, apenas gostamos.

Talvez com essa minha constante tentativa infundada e vã de explicar o inexplicável eu consiga trazer sanidade e clareza aos meus pensamentos, finalmente confirmando que nada tenho de errado, que o monstro não é tão feio assim, ou, quem sabe, o monstro não existe, e até mesmo entender que, definitivamente, somos todos monstros.

3 comentários:

  1. Bia, você não deve se julgar e se condenar, por gostar de algo mais agressivo. Você deve tentar transitar entre as duas linhas: A linha do amor e do afeto, e a linha do do prazer a sua forma e maneira. Isso não faz de você um monstro ou algo do tipo.

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    1. O texto é uma autoanálise em forma de metáfora. Eu não me considero "monstro" de verdade...

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