sábado, 4 de junho de 2016

"NA BERLINDA BDSM" - VULPES AZ

A entrevista abaixo aconteceu no dia 08/01/16 em nosso grupo no facebook, o entrevistado foi o dominador sádico Vulpes Az.


Agatha Magalhaes: Boa noite querido, se apresente pra nós. 
Vulpes Az: Espero poder contribuir e que renda um ótimo debate.

Lino Naderer: Vou começar então, já perdeu o controle em alguma prática, ou algum acidente que exigiu cuidados não programados?
Vulpes Az: Que enorme prazer começar contigo Lino!  Então felizmente nunca tive acidentes. já houveram imprevistos, mas coisas pequenas, nada sério. Todas as praticas que faço eu leio e estudo muito. Qdo é algo físico eu testo em mim primeiro antes de usar na petit para sentir na pele os efeitos da pratica e sempre pratico com cautela e com muita conversa durante a sessão. Além da questão psicológica que eu prezo muito como estar focado, sem uso de álcool ou drogas.

Adriana Dri: Como encontrou o BDSM? E o que ele é pra ti?
Vulpes Az: Eu descobri quando tinha uns 16 anos e assisti (escondido dos meus pais ahah) o filme "a secretária". Nesse filme eu entendi que muitas coisas que eu sentia e ansiava nao eram coisas erradas (e que me faziam me sentir muito culpado e estranho) e que havia outras pessoas que sentiam o mesmo que eu. Assim comecei a pesquisar sobre o assunto mas nada muito aprofundade. Só muitos anos depois que resolvi me jogar de cabeça nesse abismo.

Adriana Dri: Vida bau x BDSM?
Vulpes Az: Desde o começo eu via como duas coisas distintas mas que se completam. Tem aquela ligação peculiar e bem delicada e acho que tem de ser assim para se manter um equilibrio saudável. Nem o mundo bau invadindo o mundo fetichista, nem o mundo fetichista invadindo o mundo civil. Cada qual no seu tempo e local apropriado.

Adriana Dri: Que práticas não faria nunca?
Vulpes Az: As que eu não domino a teoria. Nao existe hoje prática que seja um tabu pra mim. Eu tendo controle e conhecimento para fazer com tranquilidade e sem perigos praticaria praticamente qualquer coisa. Claro, certas coisas que carecem do consentimento como zoo, pedo, necro, praticas com pessoas desmaiadas/inconscientes tb jamais faria.

Agatha Magalhaes: Em casa quem se sobressai mais no dia a dia, o marido ou o Dono?
Vulpes Az: Nós temos um equilibrio muito bem determinado. Fiz questão que nossa vivencia fetichista e sejam muito bem separadas. O BDSM tem hora e local pra rolar, até pq se fosse 24/7 eu ia achar um saco. Mas por outro lado, o vulpes nao é muito diferente do Az (meu apelido ahah) somos bem parecidos em vários aspectos. Eu enquanto dominador NUNCA precisei gritar, ou sequer alterar minha voz, sempre agi da forma que sou normalmente talvez com um pouco mais de imposição e com uma postura mais adequada ao fetiche.

Vickavick Viviane Salvador: Como voce lidaria com a questão das irmas de coleira.
Vulpes Az: A questão de irmã de coleira é algo que não paro muito para pensar já que é algo que é um grande limite da minha sub e tambem pelo fato de sermos hoje casados muda muita coisa. Nossa responsabilidade um com o outro é muito maior. A forma mais fácil de se minar um relacionamento, nao importa o tao forte seja, tao sólido seja e pelo lado de dentro. E só entra quem o casal permite. Meu relacionamento é mais importante que qualquer prática logo não daria chance ao erro. Fora o fato do amor entre eu e ela, nao há necessidade de mais ninguem.

Morenah Kesabel: Como foi sua chegada ao bdsm?
Vulpes Az: Foi devagar... Cheguei com humildade e com a atitude de quem quer aprender. Tb evitei a dependencia, de só acessar as coisas pelo que falam aqui no face (e no fet). vim com a postura de desbravador e como tal corri muito atrás. E mantenho essa atitude até hoje, já que tem muita coisa que não sei. E comento e tantos grupos e faço textao com essa mesma humildade de quem quer debater, ouvir o que o outro pensa e aprender com a discordancia.

Adriana Dri: Preconceito, já foi alvo?
Vulpes Az: Ah com certeza. Muitas pessoas nao entendem que eu tenho um RELACIONAMENTO fora do BDSM e que isso muda TUDO. Coisa mais comum é Dom dando pé na bunda da sub pq "nao rolou", e o contrário tb. Quando se envolve no BDSM com quem vc nao tem uma relaçao bau, é um pouco mais simples. Conciliar é MUITO trabalho e delicado. Nisso muita gente nao entendia certas atitudes principalmente em respeito à minha sub pela responsabilidade que tenho com ela enquanto namorado/marido.

Adriana Dri: Já foi botton? Tem vontade?
Vulpes Az: Desde qdo "descobri" o BDSM sempre me inclinei para o Top, nunca fui botton e nao tenho vontade. Na verdade nem consigo me imaginar na posição... E olha meditei MUITO sobre isso.

Vickavick Viviane Salvador: Houve alguma resistencia da parte dela ou ela também curtia?
Vulpes Az: Teve e tem. Ela NUNCA tinha ouvido falar em nada disso tudo. Foi um processo lento porém muito bem pavimentado... Até hoje existem muitas coisas que nao é um "limite' pra ela, mas eu sei que a faria mal, a deixaria infeliz etc... Aí é o equilibrio que sempre falo, ao exemplo de um texto que escrevi sobre isso o "direção segura".

Vickavick Viviane Salvador: Como você lida com a questão do amor entre vcs?
Vulpes Az: É muito tranquilo. Não há muito "conflito" entre o marido e o Dominador já que o nosso BDSM tem um espaço muito bem determinado na nossa vida. E é justamente meu amor por ela que contribui para a entrega dela, e para o meu esforço como Dom, meu cuidado, meu afinco... O amor torna o dominador muito maior.

Morenah Kesabel: Quais práticas prefere? Alguma que não faria?
Vulpes Az: Eu sou muito mais sádico que dominador. Logo adoro tudo que envolva o sadismo. Práticas que não faria seria aquela que eu não domino ou não tenho conhecimento suficiente. Não há nada que seja um "limite" meu ou um tabu. Tendo conhecimento e domínio eu praticaria qualquer coisa. Claro que práticas que excluam o consensual como zoo,necro, pedo, práticas com pessoas inconscientes ou bêbadas sao as coisas que nunca faria.

Eliane Lima: Você tb é Daddy?? Nos conte do Vulpes Daddy.
Vulpes Az: Não sou Daddy. Na verdade não vejo muita graça no age play, apesar de ter um puta tesão na colegial. Até tenho um pouco de preguiça da própria dominação se for em demasia.

Adriana Dri: Como são casados, como fica as sessões? Pré-programada, ou do sexo pra sessão ou vise e versa?
Vulpes Az: Atualmente não praticamos nada. Demos uma "pausa" por motivos de vida baunilha está mais importante que a vida fetichista e ela perdeu um pouco de espaço no momento. Como disse lá em cima, temos que ter o equilíbrio entre os mundos e um não pode engolir o outro, e pra isso as vezes temos que ter a responsabilidade de saber a hora de diminuir a marcha um pouco. Só agora que estamos voltando a conversar sobre isso e a planejar futuras práticas e esse foi um dos motivos que reabri meu perfil.

Agatha Magalhaes: Sua menina já desejou alguma prática que vc não desejasse? Se sim como resolveu, se não, como resolveria?
Vulpes Az: Nunca chegou esse momento. Mas dependendo da prática (na verdade acho quase qualquer coisa) eu faria sim pois o prazer dela é o mais importante de tudo. Se não for pelo prazer dela não há por que ter sessão, ter dom, ter SM.... Sem contar que ela se permitiu e viveu muita coisa por mim, superou muitos medos e tabus por mim e não custa nada retribuir essa dedicação e entrega dela.

Vickavick Viviane Salvador: Que motivo te levaria a ser mentor e quais não?
Vulpes Az: O motivo de alguém me procurar pra isso!Como disse acima tenho a postura de alguém que quer contribuir e quer crescer e estou SEMPRE aberto a ajudar no que estiver nas minhas possibilidades. Claro que há de salientar que um Mentor não é um DONO e que um mentor não faz sessão, não faz prática nem nada. Só ensina e direciona (mas isso ficará para um texto que quero escrever muitíssimo em breve). Minha mentoria, como eu acho que o papel de um mentor é, se pauta apenas na intelectualidade, no debate, na teoria, no aprofundamento inclusive filosófico de tudo o que é o BDSM.

Adriana Dri: Dando essa pausa, não te fez falta alguma?
Vulpes Az: Nossa faz MUITA falta. eu reabri meu perfil por isso nao aguentava mais ficar longe disso tudo. A nossa prática esta meio parada mas nunca foi completamente largada e em breve retomada pq dá saudade. Repetindo o que já falei. Qdo se tem um relacionamento sério baunilha junto com a D/s (ou qualquer outra relaçao fetichista) é muito trabalhoso, muito delicado. Mas mais delicado ainda é qdo se tem esses tipos de relação separadas com pessoas distintas... Muita gente age irresponsavelmente e sem compromisso dentro do BDSM, escondendo sua historia e seus compromisso na vida baunilha. Entao o fato de me afastar do mundo BDSM nao é, de forma alguma, um sinal de fraqueza ou de falta de domínio ou de imperícia enquanto Top, muito pelo contrário mostra minha responsabilidade, meu caráter, minha sobriedade e compromisso. Não jogo fora o que realmente importa por uma aventura ou por uma gozada e muitas vezes vejo que isso está bem em falta por aqui.

Morenah Kesabel: Em meio a esse boom tecnológico e modinhas de romances hots o bsdm voltou a "vista" da sociedade... isso ajuda ou atrapalha? nos dê sua opinião à respeito.
Vulpes Az: Depende muito. Eu acho que a porta de entrada não é o que importa, mas sim o que se faz depois que entra sabe. Uso por exemplo o 50 tons, independente da qualidade da obra ela meio que serviu ao seu fim. Ela abriu as portas da sexualidade para milhoes de mulheres que viviam vidas sexuais frustradas e relacionamentos frígidos assim como tantas obras que tão surgindo por aí. A romantização do BDSM é um sintoma, mas a "doença" mesmo é a preguiça das pessoas em se aprofundar. O BDSM nao é algo físico, ele é quase que totalmente MENTAL e as pessoas não se ligam nisso. Qual a diferença de dar uma surra e fazer um spanking? o prazer que a pessoa que apanha sente. A dor é a mesma, é física, mas como ela é MENTALMENTE processada pelo sistema nervoso como prazer é outra coisa, entende? Fora o fato que o SM se tornou uma válvula de escape para pessoas insatisfeitas, isso não é 100% culpa das obras mal feitas mas grande contribuição disso é pelo fato de hoje termos acesso ilimitado à qualquer tipo de informação. Se existisse internet a 50 anos atrás seria a mesma coisa, te garanto.

Ayme Felícia: Você teve muita ajuda no início, ou não?
Vulpes Az: Tive pq corri muito atrás e tive a postura e a humildade de quem está aprendendo. Mesmo nao concordando as vezes eu ouvia, pensava, refletia e entendia para depois discordar (se é que eu nao concordasse nesse processo).
O que vejo é que tem gente boa querendo ajudar, mas quem procura a ajuda, só valida quem pensa/age/é igual a ela. Isso nao conta! A pessoa nao adquire pluralidade de conhecimento, de entendimento das coisas e vira todo mundo um grande bando de papagaios de repetição. Uma crítica ao mundo BDSM - BR (nao falo da gringa pq nao conheço) é que basta alguem falar "X" de um jeito mais eloquente (e nem precisa de muito) todo mundo repete "X". Se no dia seguinte alguem falar "Y" um poquiiiiinho melhor, todo mundo passa a repetir "Y".... Maas gente, cadê o resto do alfabeto??

Agatha Magalhaes: Vcs frequentam eventos BDSM? Qual sua opiniao sobre conhecer pessoas do meio, olho no olho.
Vulpes Az: Frequento até hoje. Eu acho fantástico estar em meio à pessoas que vivem/gosta/sao iguais a você. Além do fato que sair do virtual faz TODA a diferença, acho que nada poderá jamais substituir o tete-a-tete.

Adriana Dri: Obter respeito, foi difícil? Ou natural pra ti?
Vulpes Az: Bom, aí vocês que me respondam... eu ajo até hj do mesmo modo que aji no "meu primeiro dia". Nunca corri atrás de ser um "famoso", ser "referencia" nem nada. Eu só tô na minha curtindo a viagem e tentando acrescentar no maximo que eu puder. O que vier disso é consequencia.

Adriana Dri: Pelo que já falou, percebi sua preocupação tanto com sua sub, como com a esposa, como vê esses dons que querem um monte de subs?
Vulpes Az: Bom, nao cabe a mim julgar cada relaçao uma relação. Mas cabe a mim falar de generalizações né? Sempre bato na tecla RESPONSABILIDADE e principalmente HONESTIDADE na conduta do Dom. Vejo muito aí cara frustrado ou fracassado que tenta no SM "compensar" sua falibilidade. Vejo muito cara que não se preocupa com a sub, até toma conta, trata bem... mas só se preocupa no final das contas com o SEU desejo (e qual é o fetiche mais comum entre homens? isso mesmo! o Menage) Muito se fala em "superar limites" no meio BDSM mas o que eu mais vejo é EGOISMO do Top, que usa desculpas institucionalizadas pelo senso comum para satisfazer aos seus desejos. O Top tem a OBRIGAÇAO de saber que se uma coia que ele quer muito irá machucar, magoar, acuar, humilhar (fora do contexto de sessao) a sub ele tem que ter o controle e a hombridade de nao levar adiante. "Na relação D/s impera a vontade do Top" todo mundo fala isso... mas foi mal cara, não é bem assim. Primeiro que o conceito é vago e tras um ranço da vida baunilha do... MACHISMO! da mulherzinha que atende a tudo que o marido manda sem reclamar. Na relação D/s impera a vontade do CASAL, nao é à toa que nas bases há a TROCA DE PODER (Exchange of power) e nao a "doação de poder". Um exemplo: A safe word é o maior exemplo que o poder no fim das contas está todo nas maos do botton. O poder do Top é meramente virtual... pensem nisso.

Lilene Leverdi: Já que é casado com a sua sub, o que acha de relações onde o Top restringe a submissa chegando ao ponto da dependencia financeira? O que acha de relações onde a sub não trabalha e vive a mercê do Top até pra comprar uma paçoca?
Vulpes Az: Eu nao concordo pra MINHA relação, mas eu respeito quem vive assim dentro do sadio e consensual. Existem bottons (não só mulheres mas muitos homens) que gostam de viver assim. Se é algo que é a vontade dos DOIS e não uma mera imposição egoiística do Top, não há o que se falar. POREM, contudo, todavia... como falei ali em cima, coisa mais comum é o Top usar das desculpas institucionalizadas do meio SM para promover esse tipo de relação isolando a sub o maximo possivel justamente pela fragilidade de sua hierarquia, dominação, autoridade... qto menos contato ela tiver mais vendade ela fica. e isso é brecha para abusos.

Eliane Lima: Pra vc uma pessoa casada que vive o Bdsm está ou não traindo sua ou seu parceiro??
Vulpes Az: Traiçao se faz escondido né? se a pessoa está fazendo isso OCULTADO de seu conjuge, traição é. Sempre vejo com muito cuidado com vem aquela galera falando que o BDSM é mega importante na vida dele e não consegue viver sem e que é mais forte que a pessoa e mimimi e por isso pula a cerca e pinta e borda. Eu senti na pele a falta que o BDSM faz, de fato é foda... porém A CARNE É FRACA, MAS A MENTE É DE FERRO. No fim das contas tem que se fazer um opçao e nela nem sempre entra a responsabilidade, a lealdade, a fidelidade.. normalmente entra só o egoísmo mesmo.

Bia Baccellet: Agora cheguei. Meu amigo. Qual foi a importância de ter uma mentora? Você chegaria onde está hoje sozinho, ou ter alguém pra te dar suporte e ensinar foi de maior valia?
Vulpes Az: Fui mentorado pela Rainha Sarah, uma figura bem controversa aqui do meio e que tem seus desafetos mas isso não cabe agora discutir. Ela me ajudou MUITO, sem a ajuda dela meu caminhar seria muito mais longo e com certeza eu tropeçaria incontáveis vezes. Ter a figura de um mentor sério e responsável faz toda a diferença na formaçao de um BDSMer. Nós discutíamos os termos, e um monte de coisa dentro de uma proposta da filosofia pesada discutindo , aristoteles, platao, descartes, durkhein, schopenhauer e assim vai. Nós nos damos muito certo pq ela me fazia uma coisa que adoro que é PENSAR a sexualidade. 
Vulpes Az: Mas contei tb com a experiencia e conhecimento de muita gente como o Marco, a Vaca profana, (Lia Grecco) O Richard que sempre tiveram muita paciencia para as minhas toneladas de perguntas.

Agatha Magalhaes: Ja tive o prazer de ler seus textos e sou fã demais da sua forma coerente e ao mesmo tempo um tanto a sarcastica de se comunicar, voce escreve por puro prazer ou por achar que devemos contribuir com os que estao chegando?
Vulpes Az: Ambos como dito acima tive ajuda de muita gente e agora eu tenho condições de contribuir um pouco, pq nao ajudar? Claro que nao me ponho aqui numa posição de fodão, de mestre, de entendido... Pelo contrário, me ponho na posição de quem quer trocar ideia para acrescentar e ser acrescentado...eu adoro o debate, adoro discutir, adoro trocar ideias. Sou advogado cara, minha vida é isso!!  Qdo alguem me procura tudo o que eu sei está totalmente à disposição e o que eu nao sei a gente descobre juntos. Tá o sarcasmo faz parte do DNA ´muitas vezes eu apago e reescrevo as coisas pra soar mais de boas... mas tem horas que não dá.

Ayme Felícia: Sua esposa foi sua única parceira ou vc teve outras?
Vulpes Az: Dentro do BDSM de fato, só ela. Mas eu sempre inclui certas práticas do BDSM na minha sexualidade desde sempre (mas nao considero, de fato uma vivencia BDSM entende?)

Adriana Dri: Sessões avulsas? O que pensa sobre?
Vulpes Az: Acho útil, importante e uma grande vítima do preconceito. MUUUUUITA gente trás seus valores baunilha para o BDSM e isso inclui seus preconceitos. Vamo ser bem sincero? só é contra sessão avulsa quem não consegue encontrar parceiros ahahah A sessão avulsa é pro BDSM o que o sexo casual é pro baunilha. Não há NADA de errado, errado, mas aí vem de novo o preconceito e o machismo do mundo bau invadindo o mundo fet, pq sub que faz avulsa "não presta", "é vadia". A sessão avulsa é algo importantíssimo e inclusive um modo que as pessoas podem se proteger de maus praticantes. É na avulsa que vc vê se rola a quimica, se rola compatibilidade de gostos, jeitos, intensidades. Acho muito que as pessoas poderiam parar de se preocupar com o couro alheio e ser feliz.

Adriana Dri: Sw, como os vê?
Vulpes Az: Com normalidade. Nao tenho de forma alguma preconceitos com os Sw, na verdade acho que eles estão numa situação melhor que a minha. Eles vivem o melhor dos dois mundos. Nao concorda que o fato de eu nao conseguir estar na posiçao de sub me torna mais limitado que um switcher que consegue todo pimpão estar dos dois lados do chicote? Os switcher vivem sua sexualidade de forma muito mais plena que eu, no meu ver. Não falando que um é melhor que o outro ou algo do tipo, mas sim falando que de fato eles são muito mais plenos, mais "completos". Eu penso que muito desse "preconceito" que rola com os switchers é um reflexo de homofobia. "O cara é dom, logo é macho... ah não mas se ele curte ser sub significa.

Bia Baccellet: Faria uma sessão com um bottom do sexo masculino?
Vulpes Az: Tranquilamente! pra mim não importa a pessoa e sim a prática. Meu tesão não é na mulher que estaria ali na minha frente, mas sim o ato do spanking/dominação/qualquer prática. É claro que eu como hétero teria mais prazer e mais "animação" em fazer com uma mulher pois me agrada e me atiça. Mas com um homem ainda sim ficaria muito satisfeito, inclusive já pensei em fazer. Isso já foi objeto de discussão mais de uma vez com a minha sub. Nunca fiz pq ELA não se sente a vontade com a idéia de eu fazer sessão com outra pessoa, qualquer que seja (e novamente volta aquele ponto da responsabilidade como Top). Numa festa em BH eu exerci minha autoridade, humilhei (dentro de um contexto fetichista) e dei ordens um podólatra e isso me deu MUITO prazer e satisfação. Nao importava se era um cara, o que importava era que eu estava satisfazendo meu fetiche. Isso nao me torna gay nem bi. Me torna um fetichista que faz a prática pela prática, o tesão é consequencia natural. Além do fato que pra mim ser gay/bi/lesbica vai MUITO além de quem vc pega ou deixa de pegar.

Bia Baccellet: Qual sua opinião sobre esse BDSM pasteurizado e todo limpinho e bonitinho que a gente tem visto por aí?
Vulpes Az: ADOREI!!  Sempre digo para quem quer me ouvir que o BDSM É FEIO, SUJO, FEDIDO, MOLHADO, LAMBUZADO. E é isso que o torna tão bom. Não tem essa de tudo limpo e arrumado, no final da sessão estão ambos suados, descabelados e com a cara vermelha. Se o BDSM fosse algo assim tão propaganda de produto de limpeza nao teria a mesma graça nem o mesmo gosto.

Adriana Dri: Tem preferência por biotipo? Assume isso?
Vulpes Az: Assumo demais. Eu tenho um tipo fisico muito particular que me agrada e que é o que me dá aquele primeiro empurrão de interesse. Mas no fim das contas eu gosto de mentes, e muitas vezes pessoas que os outros achavam "feias" para mim eram bem lindonas (namorei altas assim. Meus amigos e familiares me zuavam mas ele nao entendia que eu tava apaixonado pelo cerebro delas ahahahah). Outra coisa, pode parecer papinho mas eu acho que nao existe pessoa "feia" pra mim todo mundo tem ALGUMA COISA que a torna bela, nem que seja só naquele momento muito específico... pode ser o jeito de sorrir, de caminhar, de gesticular, de espirar etc. Mas eu gosto: magrinha, pele clarinha, cabelo curtinho preto, olhos qto mais escuros, peito e bunda nao grande (do tamanho pra caber na minha mão). Tb curto minas meio androginas.

Bia Baccellet: Foi fácil pra você separar o Dono da Petit do marido?
Vulpes Az: Foi sim. Nosso BDSM sempre foi muito bem estabelecido. Tinha hora e local para começar e acabar. Então a transição de namorado que se via de vez em quando para marido que mora junto foi muito tranquila nesse sentido. 

Bia Baccellet: Já chegou a alguma conclusão sobre o porquê você gosta de BDSM ou já parou de tentar achar uma resposta?
Vulpes Az: A resposta é simples. É pq eu sou safado mesmo.

Agatha Magalhaes: É adepto de praticas mais hards dentro do SM? Se sim quais?
Vulpes Az: Até que não, apesar de procurar saber, entender, aprender... eu sigo o ritmo da pettit e ela nao estava no nível de práticas hard nossa base era a SSS (sao sadio e sensual) e nunca tivemos necessidade de extrapolar demais as coisas.

Adriana Dri: Tu que a inseriu? (Sua esposa)
Vulpes Az: Foi. Ela nunca tinha ouvido falar de NADA. entao aos poucos fui conversando, apresentando textos, ai a gente sentava pra discutir, trocar ideias... ai aos poucos fui apresentando algumas práticas... e de pouquinho em pouquinho ela foi tomando gosto por tudo isso

Agatha Magalhaes: Emprestaria ou compartilharia sua posse?
Vulpes Az: essa é complexa. No nosso caso tem a questao "amor", "casados", "relacionamento baunilha" e isso muda TUDO. Mas eu penso que compartilharia sim se houvesse uma vontade de ambos e se tivéssemos alguem em quem confiássemos (e sentíssemos atraçao) suficiente para isso... Mas isso é uma conjectura muito distante e bemmmm remota de acontecer. Já o emprestar... é mais complicado pq no ato de compartilhar eu estaria ali junto de olho em abusos ou red flags. Jamais deixaria minha posse não mão de outro, por mais que conhecesse e confiasse demais!! Minha posse é minha responsabilidade entao devo vigiar sempre.

Bia Baccellet: Você gosta de escrever, assim como eu. Como isso te ajuda a lidar com o seu BDSM? Tem um objetivo ou são só divagações de um sádico?
Vulpes Az: Eu amo o debate, eu amo conversar, trocar ideias. AMO DISCORDAR!  Eu escrevo (e acho que escrevo pouco, deveria vencer a preguiça e fazer mais) pq acredito que possa estar contribuindo. São divagações sempre, mas também sempre abertas à crítica e à discordância que é nelas que nós podemos progredir mais um pouquinho.

Bia Baccellet: Já precisou lidar com subspace ou topspace? Se sim como foi?
Vulpes Az: A pettit já chegou perto uma vez. Felizmente eu percebi e aos poucos sutilmente fui trazendo ela... fui parando a prática, fui "desviando" a atenção para mim e ela foi se normalizando. Topspace, pelo que eu sei, é algo bem raro de acontecer... nunca nem cheguei perto... acho que talvez pelo fato de eu pensar que o BDSM é uma prática mental, e qdo estou em sessão mantenho minha mente num estado muito específico, focada e concentrada de um modo que fui trabalhando ao longo do tempo.

Adriana Dri: Exige ser chamado de Senhor? Como te abordar? E como aborda outros, independente da posição?
Vulpes Az: É "você" pra todo mundo, inclusive pras subs que falam comigo. O chamativo "senhor" é um sinal de "respeito à autoridade" e ele deve ser conquistado e nao imposto. Se o bottom me reconhece como uma autoridade e a valida e em respeito À isso me chama de senhor eu acho lindo e me deixar muitíssimo satisfeito... agora vem de "senhor" pra lá e pra cá pq é "liturgica" acho vazio, sem sentido, falso e muito feio. Tem texto sobre isso também.

Bia Baccellet: Diga, o que vem à sua mente, lá no fundinho dela, quando vc se depara com um dos sem noção que circulam por aqui e por acolá? Se considera naturalmente um treteiro, ou você é da turma da vaquinha(caga e anda)?
Vulpes Az: Treteiro sou não, sou deboísta... mas o meu lado sátiro chega coça ahahaha muitas vezes dá preguiça e nem vale a pena se dar ao trabalho de falar alguma coisa. Mas muitas vezes não dá pra deixar passar e aí dá-lhe textão. Nao sei qual a impressão que eu passo qdo pego pra discordar de alguma coisa, mas nunca é no intúito de diminuir ninguem (mentira algumas vezes sim ahahah) mas meu intuito é SEMPRE chamar à reflexao e ao debate. Pq eu penso que muitas vezes o proprio post que rola uma bobagens colossais sao os melhores campos para se plantar uma coisa boa. Treteiro nao sou, mas sou da zueira...e o sátiro nunca se cansa!!

Bia Baccellet: Você vê o BDSM como um "estilo de vida" ou tem uma visão mais particular? Família e amigos sabem dessas suas preferências?
Vulpes Az: Eu tava pensando sobre isso HOJE inclusive...e cheguei numa conclusao que é bemm diferente da que eu tinha antes. Antes pensava que o BDSM nao era um estilo de vida, ou uma filosofia de vida pq "lá fora", no mundo baunilha eu nao sou Vulpes, o fetichista... sou o Az, o cara normal... a gente nao "vive" o BDSM na "vida normal' ninguem trata como Dom a todas as pessoas, o cara pode ser o maior Dom de todos os tempos, mas "lá fora" ele deve satisfação pro chefe, pro síndico, pro policial, pro juiz, etc. Mas hj eu cheguei a outra conclusão. O BDSM pode sim ser um estilo de vida e eu vi que o sigo na minha vida, pois o BDSM prega certos valores e virtudes como o respeito, responsabilidade, controle, HONRA, etc.. e eu levo esses valores e virtudes pra minha vida "civil", entao nesse sentido eu acho que é sim um estilo de vida.  Familiares e amigos nao sabem do Vulpes. Se eu fosse solteiro com certeza usaria meu perfil baunilha, mas fora meus famliares, meus clientes eu tenho a familia da Pettit no face, como explicar pra eles?? Eu criei o Vulpes mais para resgardá-la do que a mim mesmo.

Marco Bauhaus Mishima: Quais são as práticas que você experimentou e percebeu que não eram para você, Vulpes?
E quais foram aquelas que um bottom pediu e você já teve que puxar o freio (Seja por questão da prática em si ou da intensidade que eles queriam)?
Vulpes Az: Acho que das que eu experimentei até agora todas foram pra mim ahahah. Disse lá em cima em algum lugar que tendo conhecimento e técnica eu faço qualquer coisa. Sub, nos limites da palavra, só tive a pettit, apesar de viver certas praticas relacionadas ao BDSM na minha sexualidade desde a juventude. Já tive que frear uma mina que queria spanking mas ela empolgou tanto que começou a tentar me agredir. A cama tava virando ringue... foi, no mínimo, inesperado pq ela era uma mocinha muito doce e meiguinha ahahah No mais nunca precisei frear nada pq sempre ia "na onda" do momento... enquanto dominador nao precisei pq sempre consegui manter minhas sessões com a pettit no ritmo e intensidade que eu queria.

Bia Baccellet: Muita gente usa o BDSM pra "dar tapa na cara da sociedade" e fala que não deve nada a ninguém e coisa e tal. Quando essa pessoa descobre que o buraco é bem mais embaixo, fica de mimimi, dizendo ser discriminado, que a sociedade é preconceituosa e blá, blá, blá. Qual sua opinião sobre essa atitude meio recorrente?
Vulpes Az: Essa foi boa.  Sinceramente eu nao acho nada sabe. todo mundo aqui é crescidinho e vacinado... todo mundo sabe muito bem o que tá fazendo aqui e muitas vezes vem pagar de judiado. BDSM e descolado, coisa de gente diferentona... mas se é pra tirar onda, tem que aguentar manter também. A sociedade NAO está pronta, existe uma "liberdade" hipócrita em que tudo é permitido, mas nada é aceito... e tem certos tipos de exposição que não valem a pena. Mas cada caso é um caso. Tem muita gente que aguenta a onda de boas e leva sua vida fetichista abertamente com muita garra e isso é importante pra gente, pois são pessoas que tem essa coragem que abre muitas portas para a gente no futuro.

Adriana Dri: Se relacionaria com uma Sw? Sem medo?
Vulpes Az: Com certeza e seria muito divertido!! Até tentei fazer da Pettit uma switcher. Mas por uma coerência hierárquica e lógica de relação D/s eu exigiria que minha autoridade respingue nos subs desse Sw entende? O Sw, teria um sub, mas tb um dono. Quem pode mais pode menos.

Adriana Dri: Um conselho para quem está iniciando?
Vulpes Az: BOA!!! Quem sou eu pra dar conselhos, né? Mas eu posso falar do que vi que dá certo.  Seja humilde, "escute" muito, e tenha a consciência que você só pode percorrer esse caminho pelas próprias pernas. Então corre atrás, nao fica dependendo de ninguém. Principalmente os bottoms, antes de se relacionar tenha conhecimento, saiba o que esta acontecendo. nao se esqueça que é TEU COURO que tá na reta. E o mais importante duvide de metade do que ouve e de tudo que lê. Busque as respostas você mesmo. A gente que já tá calejado aqui pode só te mostrar a direção mas é você quem deve chegar lá.

Adriana Dri: E um exemplo a seguir?
Vulpes Az: Cara melhor que seguir exemplos siga seus valores. Tua cabeça é teu guia nao tem erro.

Simone Ana: Como Advogado, qual o tipo de crença comum que vc ve por ai na comunidade, e que lhe da ate arrepio no saco?
Vulpes Az: Como assim crença comum?
Simone Ana: hummm...Crença na segurança que os contratos geram... Crença na validade das relaçoes perante a justiça, na segurança da garantia da palavra consensual e fazer um spanking etc.
Vulpes Az: Juridicamente, tá tudo errado! Certas práticas vão totalmente contra o ordenamento jurícidos e mesmo que aja "consentimento" de ambos não pode ser levado à cabo. O tal contrato mesmo que escrito e registrado em cartório (na hipotese do cartorio registrar) nao tem valor nenhum que nao o simbólico entre as partes. Já o spanking pode até ser que juridicamente não dê nada, já que temos a liberdade sexual e a prática consensual que nao seja uma agressão de fato nao configure crime. Mas até falar que focinho de porco não é tomada.

Simone Ana: Tem muita politica no Bdsm pra vc?
Vulpes Az: Pra mim tem muita "politicagem"

Simone Ana: As pessoas tendem a ver as que são empreendedoras no meio como aproveitadores etc, Vc vê como o papel dessas pessoas no cenário BDSM hj?
Vulpes Az: Empreendedora é diferente de aproveitadora. Empreende quem corre atrás, quem se esforça pra ter uma "carreira" sólida e respeitável. Eu acho isso uma atitude massa e nesse sentido poderia até dizer que eu sou um empreendedor.

Simone Ana: Vc considera um espelho do carater a maneira que as pessoas agem no meio bdsm, assim como no baunilha? mesmo elas se sentindo a vontade pra reclamarem aqui de intolerancia, preconceito e blablabla?
Vulpes Az: Nossa adorei essa!! com certeza é o mesmo principio da "teoria do garçom" que vc vê o real carater de alguem pelo modo como a pessoa trata a quem te serve. Aqui é exponencia pois além das visoes deturpadas do que é submissão e hierarquia ainda tem o problema de vc ser "quem quiser", já que nao ta mostrando sua carinha feia.

Simone Ana: O que mais te espantou nesse retorno apos o tempinho que deu da gente?
Vulpes Az: Que nada mudou cara

Bia Baccellet: Obrigada pela maravilhoooooooosa entrevista Vulpes Az. Abriu nosso ano com chave de ouro. Boa noite a todos e obrigada pela participação!

*Em construção mas disponibilizada para leitura.(Entrevista ainda em processo de edição, lembrando que os erros de digitação se devem ao fato de as pessoas também usarem o celular para escrever)

4 comentários:

  1. Amei o seu blog!! Espero que continue postando....

    Eu nunca pratiquei o BDSM com ninguém! E estou esperando um Dom que sinta alguma coisa comigo....

    E estou gostando de um dom, só que ele tem várias escravas... eu realmente eu quero ser dele só que eu quero ser a única, eu realmente amo ele. E eu não sei oque eu faço.... você tem algum conselho para mim?!?

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    1. Provavelmente você não vai conseguir mudá-lo, então, avalie se não será algo que te fará sofrer. No mais te aconselho a conhecer o mundo BDSM antes de se aventurar.Frequente a comunidade e conheça pessoas que praticam, elas acabam sendo um ótimo suporte nessas dúvidas.

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  2. Adorei. Principalmente porque estou iniciando neste universo como Dom e precisando de mestre.

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  3. Como conseguir um mentor/ar?

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