quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Direção Segura Top/bottom

Texto de Vulpes AZ


Recentemente Petit escreveu um texto falando sobre a auto sabotagem que o botton comete, levando a feridas e uma falsa sensação de superação.

Pelos comentários neste texto, pelos comentários e posts que observamos nas redes sociais esse é um fato bem comum e que sempre causa alguma celeuma pública.

Acompanhando alguns debates pelas redes sociais recorrentemente surge uma máxima que diz que no BDSM é simples: “Um manda, outro obedece.” Pensamento simplório que, de fato, corresponde às premissas primeiras da prática fetichista, porém não define apropriadamente essa dinâmica como muitos tentam fazer crer.

Limitar a relação D/s ao simples “mandar x obedecer” é desnudá-la de todo o trabalho que a relação dá, principalmente aos Tops. Conversando com a @-petit-lapin- sobre nossa relação e os rumos que percorremos juntos, falei que uma das grandes complicações de se estar na posição de Top é que ela, por si só, te sujeita a cometer MUITOS equívocos e dar muitos vacilos, ou ainda, ser “culpado” de erros ao qual não deu causa.

Afinal a “iniciativa” estará sempre na mão do Top. Mantendo essa visão mais rasa, é ele quem, a princípio, deve buscar e introduzir as técnicas e novidades dentro da relação, conduzir a relação visando algum objetivo específico. Ou seja, as coisas devem acontecer por sua iniciativa e direcionamento. Ao bottom cabe, a princípio, simplesmente segui-lo e acatar às suas ordens.

Aí que entra o cerne da questão. O dominador vai se basear em seu julgamento e sua observação da evolução de sua peça para dar o próximo passo. Contudo a peça não dá feedback apropriado já que tudo que lhe é demandado é cumprido cegamente e guarda os resíduos psíquicos da obediência e assim o Top segue em frente, certo de que está tudo azul na relação.

Por outro lado, o Top pode (e não raramente) se empolgar demais, se vislumbrar demais, perder noção ou simplesmente “pouco se fuder” e extrapolar os poderes que tem. Determinar coisas que fogem ao combinado ou ao limite do bottom, e este vai seguindo cegamente sem dar nenhum sinal ao Top de eventuais danos, mágoas, problemas que essa empolgação pode trazer.

Falando da minha relação vejo muito como um carro na estrada. É preciso um acelerador e um freio para seguir em segurança. Se somente se apertar o acelerador inevitavelmente irá colidir ou derrapar na primeira das muitas curvas a frente. Acho que o Top é quem deve acelerar a relação e levá-la pra frente e que o bottom tem a RESPONSABILIDADE de usar o freio sempre que necessário.

Sim, o bottom é o freio(necessário) à qualquer relação T/b. Isso não é retirar o poder do Top, tampouco se igualar ou diminuí-lo. Mas é uma questão da natureza própria dos papéis.

Afinal, o Top deve acelerar com parcimônia e seguir os limites de velocidade que naturalmente surgirá no decorrer da relação, porém a referência da adequação da velocidade deve ser sempre seu bottom que é quem vai sentir tudo na pele (literalmente ahahah).

O bottom deve sim ser um freio para a relação. Não para estagná-la, mas para fazer as curvas, desviar dos obstáculos e seguir em SEGURANÇA o caminho, pois o pé pode pesar, o carro pode até correr rápido demais e o Top não ter a noção que está indo rápido demais e perder completamente o controle da direção. É assim que ocorrem acidentes e pessoas saem feridas.

Gosto de manter minha relação D/s sempre numa via de mão dupla, uma troca constante, até pela base que praticamos SSS. O bottom não deve se eximir de sua responsabilidade. Ao contrário do pensamento raso acima citado “um manda, outro obedece”, onde esse pensamento retira do bottom de maiores responsabilidades já que seu papel seria só ir lá e obedecer e botar seu corpinho ali à disposição. Receita certa pra dar confusão.

Quantas vezes não surgem bottoms revoltados com seus antigos donos denunciando-os, falando que eles fizeram isso e aquilo errado, que abusaram e não respeitaram o previamente acordado etc. E a primeira coisa que me pergunto é se o bottom que cobra as responsabilidades do Top cumpriu com as suas. De dar o feedback necessário e a referencia apropriada para o Top poder acelerar na velocidade certa.

Não encontrando esse equilíbrio entre aceleração x freio o Top (preparem-se para a heresia em 3...2...1...) VAI ERRAR e muito. Sem esse “controle” o Top ficará totalmente sujeito ao erro, ao equívoco e até mesmo à mera empolgação. Isso não está errado, faz parte da brincadeira, faz parte da nossa natureza, afinal a vivência fetichista é um constante tentativa e erro até se chegar ao acerto.

Sendo assim o que separa o Dominador de um dominador? Poderia dizer que é aprender com os próprios erros, admitir que os comete e não repeti-los. Saber que ouvir sua peça não lhe tira do pedestal, pelo contrário, o engrandece pois é a melhor fonte e a mais confiável para o aprimoramento. E se o bottom não se preocupa em dar ao Top a base que ele precisa para se desenvolver e à relação, acha que só tem que ser um sub campainha (é aquele que só sabe fazer “sim-dom....sim-dom...sim-dom...”) não poderá reclamar depois que bater de frente com um muro.

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