sexta-feira, 8 de agosto de 2014

"NA BERLINDA BDSM" - DANIEL ARAUJO

O entrevistado do dia 01/08/14 foi o Senhor Dom Daniel Araujo.

Segue abaixo, na íntegra, a transcrição da entrevista que aconteceu online no nosso grupo do Facebook.

Bia Baccellet: Iniciamos mais uma entrevista com Daniel Araujo. Após a apresentação as perguntas estão liberadas. Boa noite, apresente-se Senhor!!!!

Daniel Araujo: Boa noite, me chamo Daniel, sou dominador iniciante e dono da sub Lucy De Daniel, sou carioca e tenho 32 anos.

Cammy Veras: Boa noite, como conheceu o BDSM?

Daniel Araujo: Cammy Veras Eu já via vídeos na internet há tempos e sempre achei isso tudo muito legal, mas só no início deste ano, quando conheci a Lucy De Daniel é que tive oportunidade de conhecer de verdade e colocar em prática. Em uma conversa nós descobrimos que os dois tinham interesse no assunto e resolvemos, juntos, aprender e praticar o BDSM

Gabriel Souza SenhorRasputin: Boa noite, meu querido! Pra você, o que é ser um Dominador?

Daniel Araujo: Gabriel Souza SenhorRasputin São muitas coisas.
É aprender a ser melhor, pois ter uma vida em suas mãos é muita responsabilidade.
É ter controle sobre si, pois pra ter controle sobre outro, antes de tudo, é preciso ter controle sobre sua própria vida.
É querer que sus submissa seja melhor pra te deixar orgulhoso e a ela feliz.
Mais uma vez é querer ser melhor pra sua submissa (sim!), você é muito importante pra ela então é importante que ela também se orgulhe de você

Cind Poet Weronese: Como você administra seus instintos ?

Daniel Araujo: Cind Poet Weronese Administro muito mal. Ainda sou inexperiente mas errar faz parte, mas acredito que com a prática aos poucos eu melhorarei.

Cind Poet Weronese: Como um dominante iniciante: um erro representa um fracasso ou oportunidade de crescimento? Como administra ou diferencia esse sentimento ?

Daniel Araujo: Cind Poet Weronese Conscientemente eu sei que um erro representa uma oportunidade de crescimento e aprendizado, mas algumas vezes eu pensei em desistir depois de algo não ter dado certo. Sabe aquele discurso do "Isso não é pra mim!"?

Bia Baccellet: Que características ou qualidades admira em uma submissa?

Daniel Araujo: Bia Baccellet A Lucy De Daniel é incrível mas acho que a sinceridade é um traço muito marcante. E o sorriso, é claro

Daniel Araujo: Retificando a resposta que dei à Bia Baccellet:
Que características ou qualidades admira em uma submissa?

Acho que uma submissa não deve nunca mentir pro seu dono e precisa ser carinhosa. Não acho que ser questionadora seja um problema, só não pode ser cabeça dura. Eu sou um cara aberto ao debate mas eu não gosto de ceder a pessoas que tentam impor suas vontades. Então se uma submissa tem esse tipo de comportamento acho que ela deveria rever seus conceitos

Cind Poet Weronese: A ira, a raiva, o nervosismo ou mesmo o estresses da vida pessoal (bau) interferem ou mesmo refletem no comportamento BDSM ... para um dominante experiente são questões delicadas, e procuramos sempre separar, mas tmb erramos ... como administra ou administraria uma sessão onde seus ânimos estivessem alterados ?

Daniel Araujo: Cind Poet Weronese Quando eu estou bravo ou nervoso eu nem mesmo sinto vontade de fazer uma sessão, quando estou assim prefiro o isolamento. Não é nem uma questão de achar que vou pegar pesado demais ou descontar minhas frustrações no bumbum da minha sub. Já quando eu estou estressado ou cansado demais eu desanimo, só dá vontade de dormir. hehehehe. É bem difícil separar as coisas, espero um dia encontrar uma forma de usar os reveses da vida baunilha como combustível pra vida BDSM.

Gabriel Souza SenhorRasputin: Devido à distancia, o contato virtual se torna uma maneira bastante importante para a manutenção de um relacionamento. De que maneiras vc se utiliza do virtual para o controle real da submissa?

Daniel Araujo: Gabriel Souza SenhorRasputin Eu falo com a Lucy De Daniel praticamente todos os dias, isso ajuda a matar um tiquinho da saudade.
Nós também temos um pequeno sistema em que ela anota as coisas boas e ruins que ela fez no dia e eu avalio, então dou tarefas para pagar pelas faltas ou libero pra ela fazer algo que gosta muito.
Eu também exijo que ela me consulte sempre, eu digo se pode ou não sair, o que deve vestir em certas ocasiões, se pode ou não comer algumas coisas.

Cammy Veras: Quais as práticas que prefere e quais ainda pretende desenvolver?

Daniel Araujo: Cammy Veras Gosto de spanking, gosto muito de shibari (uma coisa que eu quase não pratico mas que acho incrível), waxplay, estou aprendendo bondage, recentemente começamos a flertar com o pet play e gosto também de disciplina

Marco Bauhaus Mishima: Boa noite DanielJá sentiu alguma vez uma imensa diferença entre entre a idealização - a qual muitos propagam como sendo um molde prático para a coisa - e a realidade - que pode nunca se parecer com os contos e ser bem mais árdua, mas que é muito mais compensadora...?
Se sim, quais foram suas impressões?

Daniel Araujo: Marco Bauhaus Mishima Eu nunca caí na ilusão de que o BDSM fosse essa coisa dos livros e dos filmes mas eu já me decepcionei comigo. Eu sou muito exigente comigo mesmo e fico muito frustrado quando não faço as coisas do jeito certo.
Eu tenho total noção de que por mais que se estude, a pratica vai ser sempre um pouco mais complicado, e é aí que mora o meu problema. Eu tento aprender as práticas, vejo vídeos, leio tutorias, faço tudo perfeito na minha cabeça e na hora H nada sai exatamente da maneira que eu achei que deveria sair.

Rose Mouha: Como um Dom iniciante qual foi o "erro" que cometeu que mais se culpou? E o que aprendeu com ele?

Daniel Araujo: Rose Mouha acho que um dos erros mais emblemáticos foi, no início, ser democrático demais.

Lucy De Daniel: Dono, se possível, gostaria que você explicasse aqui por que não posso chamá-lo de "senhor" e por que rejeitou o prenome de Dom recentemente. acho que é uma oportunidade que tem de explicar sua decisão.

Daniel Araujo: Lucy De Daniel Acho que, desde de que a vida do próximo não esteja sofrendo interferência, as pessoas tem o direito de serem felizes fazendo seja lá o que for que estejam fazendo. Respeito muito aqueles que seguem a liturgia mas, para mim, todas estas formalidades são um pouco incomodas.
Eu pratico BDSM porque eu gosto, porque me faz sentir autêntico. Ser chamado de senhor, dom, etc, soa muito artificial para mim, eu não quero me sentir representando um papel, eu estou aqui pra me sentir mais eu do que nunca fui.

Gabriel Souza SenhorRasputin: Já sofreu algum preconceito por ser iniciante?

Daniel Araujo: Gabriel Souza SenhorRasputin Não, sempre fui muito bem recebido pelas pessoas do meio. Acho que o maior preconceito veio de mim mesmo, quando achei que não seria aceito por ser iniciante ou pouco experiente.

Bia Baccellet: Já aconteceu algum acidente em uma sessão, ou algo saiu muito diferente do esperado em alguma prática? Pode nos contar, resumindo é claro.

Daniel Araujo: Bia Baccellet Sim, eu já errei a mira e acabei batendo em local que a Lucy De Daniel não aguentou. E teve uma vez que eu fui inventar de usar um flogger de forma não convencional e acabei dando com o cabo no pezinho dela.

Lucy De Daniel: Bia, aguentei o spanking respeitosamente, mas o cabo no meu tornozelo fez chorar.

Cammy Veras: Existe alguma prática de que se orgulhe ter feito com sua sub. Algo que o surpreendeu?

Daniel Araujo: Cammy Veras Meu primeiro shibari, eu passei dias lendo um tutorial de como fazer uma estrela com uma corda. É claro que não ficou do jeito que eu imaginei mas ficou muito bom.

Lucy De Daniel: Cammy Veras no meu FetLife tem a foto da primeira estrela de shibari!!!

Lucy De Daniel: Dono, posso perguntar qual foi a coisa mais feia e a mais bonita que eu já fiz? consegue lembrar?

Daniel Araujo: Lucy De Daniel Feio é quando você não pede "por favor".
A coisa mais legal foi fazer eu me sentir mais livre, eu nunca tive tanta abertura pra falar e fazer qualquer coisa quanto eu tenho com você.

Bia Baccellet: Como encara o BDSM puramente virtual?

Daniel Araujo: Bia Baccellet Apesar de viver em outro estado e a maior parte do meu contato com a Lucy De Daniel ser por telefone ou pela internet, eu não pratico e não acho que praticaria BDSM virtual.
Mas como eu disse antes, acho que as pessoas devem ser felizes e se a prática do BDSM virtual as faz feliz, quem sou eu pra dizer que elas estão erradas?

Shikomi Sakura De Lorde Sandman: Boa noite, Senhor Daniel Araujo, como se sentiu na primeira vez que bateu com um chicote?

Daniel Araujo: Shikomi Sakura De Lorde Sandman: Eu me senti bem desconfortável, eu sou mais dominador do que sádico. Eu apenas gostava de sexo um pouco mais hard mas estou aprendendo a gostar, hoje em dia eu até sugiro novas coisas para experimentarmos

Shikomi Sakura De Lorde Sandman: O que o Sr pensa sobre a prática pet play? Já fez, tem curiosidade ou quer distância?

Daniel Araujo: Shikomi Sakura De Lorde Sandman Acho o pet play incrível. É impressionante como em certo nível a pet passa a ser mais instintiva, mais bicho que do que gente, isso parece ser muito libertador.
Estamos começando a brincar com isso e, claro, adorando.

Carlos Natividade: Boa noite ... me diga Daniel Araujo o Sr leu 50 tons ? Qual sua opinião sobre o fenômeno 50 tons.

Daniel Araujo: Carlos Natividade Não li e nem me interesso. Não é preconceito de BDSMer, antes mesmo de começar a praticar eu já não me importava com esse livro.
Eu vejo muita gente só enxergando o lado negativo das coisas, mas eu acho que esse fenômeno tem seu lado bom. Isso atrai mais gente pra conhecer o universo BDSM, o que pode causar, ao meu ver, três coisas.
1) A pessoa conhece, gosta e fica. E isso é ótimo.
2) A pessoa conhece, não gosta e cai fora. Mas ela conheceu, e nesse processo preconceitos são quebrados. Ela não vive o BDSM mas passa a respeitar sem preconceitos aqueles que o fazem.
3) A pessoas conhece, não gosta e cai fora e no processo só confirma o que pensava antes. Se ela já tinha preconceito antes então, agora que já conhece, não vai fazer diferença.
Se de três pessoas que entram na onda "50 tons" cada uma for por uma linha dessas, então serão menos dois preconceituosos. No fim das contas o saldo pode ser positivo.

Lucy De Daniel: Carlos, obrigada por fazer essa pergunta... porque achei essa resposta genial e me fez repensar o que eu acho desse livro. Dono lindo!

Cind Poet Weronese: Qual o grande diferencial ( se é que existe para vc) entre administrar uma sub ou uma baunilha ?

Daniel Araujo: Cind Poet Weronese É muito mais fácil negociar com uma sub, afinal eu estou por cima

Cind Poet Weronese: Hoje, poderia simplesmente virar a pagina da sua vida BDSM, e viver apenas o Bau ?

Daniel Araujo: Cind Poet Weronese Já pensei bastante sobre isso e acho que sim. Não me vejo um BDSMer fora da minha relação com a Lucy De Daniel.

Cind Poet Weronese: Qual foi sua maior dificuldade no BDSM? E qual é a maior hoje ?

Daniel Araujo: Cind Poet Weronese A minha maior dificuldade foi e ainda é ser um dominador com uma postura mais enérgica. Eu tenho uma mente muito democrática e as vezes é difícil ter que tomar decisões por outras pessoas sem que estas sejam consultadas. É difícil saber se o que eu faço é mesmo o certo e sempre me culpo muito quando faço uma má escolha, principalmente quando esta escolha envolve a vida de outra pessoa

Cind Poet Weronese: Sua sub esta estável hoje, mas digamos que ela surte de uma hora para outra, o que passaria primeiro em sua cabeça ?

Daniel Araujo: Não sei o que faria se ela surtasse, acho que eu ficaria que nem o urso do Pica-Pau.

Cind Poet Weronese: com a vivencia quem tem até aqui... hoje viveria um 24x7 ?

Daniel Araujo: Cind Poet Weronese A gente já vive uma 24x7, cheias de tentativas e erros mas estamos seguindo em frente. Não acho que eu deva mandar ela fazer coisas o tempo inteiro, mas quando eu peço ela me atende e ela sempre me consulta em coisas que envolvam situações fora da rotina.
Talvez seja uma 24x7 não tão convencional, mas estamos tentando.

Giulia Farnese: Caro senhor Daniel Araujo, poderia me explicar como administra seu 24x7 à distância? Como mantém o equilíbrio entre seu momento bau e BDSM? Quais as maiores dificuldades em viver os dois?

Daniel Araujo: Giulia Farnese É bem complicado mas a gente se fala sempre. A melhor maneira de fazer a coisa dar certo, dentro das nossas limitações, é a comunicação, e isso não falta nunca.
Na verdade eu não enxergo a minha relação com a Lucy De Daniel como baunilha ou BDSM, é apenas uma relação que vem dando certo, onde fazemos o que gostamos.
Já tive muita crise com essa divisão entre vida baunilha e vida BDSM, tentar viver um personagem me causou muito sofrimento e confusão, hoje eu penso que tenho apenas a minha vida. Eu sou o que sou, não quero viver duas vidas, duas personalidades, eu vivo em apenas um mundo.

Giulia Farnese: Aproveitando, já teve algum problema como viver no limbo entre BDSM e baunilha?

Daniel Araujo: Giulia Farnese Já tive um tipo de crise existencial, não sei bem. heheheh. Fiquei muito confuso e hoje eu decidi que pra mim não existe baunilha ou BDSM, existe apenas o que eu quero fazer e o que me faz bem.

Gabriel Souza SenhorRasputin: Quais práticas são inaceitáveis pra vc?

Daniel Araujo: Gabriel Souza SenhorRasputin Hoje eu não faria nada que envolva coisas nojentas ou causar feridas profundas em alguém. Mas eu sou um cara de cabeça bem aberta, nunca se sabe o dia de amanhã.
Mas a minha opinião geral sobre as práticas é de que nada é inaceitável desde que os envolvidos estejam de acordo e curtindo seja lá o que for que esteja fazendo

Cind Poet Weronese: Daniel Araujo viver o BDSM é complexo, é libertador. Para vc o que é mais fundamental, estudo ou a tentativa do erro e acerto? Acredita que o treinamento é importante ? Pq e para que?

Daniel Araujo: Cind Poet Weronese Acho que tanto o estudo da parte comportamental e humana quanto a da parte técnica são importantes. Confesso que tenho pouca paciência pro estudo das teorias comportamentais mas adoro aprender a fazer as coisas, passo horas lendo e relendo um diagrama de como fazer um nó ou aprendendo sobre que parte do corpo é mais ou menos perigosa de ser bater.
A tentativa e erro faz parte do aprendizado da prática, por mais que se estude nada sai perfeito na primeira vez que você tente praticar. Veja bem, o estudo é importantíssimo para direcionar as suas primeiras tentativas, mas só o erro vai te dar o ajuste fino pra te levar à perfeição.

Bia Baccellet: Entrevista encerrada. Agora somente teremos as respostas para as perguntas feitas dentro do tempo.

Bia Baccellet: Muito obrigada pela sua disponibilidade e pela ótima entrevista Senhor Daniel Araujo. Foi enriquecedor. Aos membros boa noite!!!

Daniel Araujo: Acabou? UFA! 
Gente, obrigado. Foi muito mais difícil do que eu imaginei mas vocês foram muito legais comigo. Um abraço.

Link para acesso à entrevista no Grupo Iniciação ao BDSM do Facebook.

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